O estudo sobre cultura visual em educação de artes sob a perspectiva inclusiva da professora Kelly Bianca Clifford Valença que foi realizado em 2009 na cidade de Goiânia. Me revelou muitos dos aspectos que já tinha diagnosticado nas oficinas oferecidas no Espaço Cultural Renato Russo em Brasília, eles são os principais pontos de discussão da pesquisa da professora, a interpretação e o registro do artefato social, vistos como elementos cruciais no ensino de cartuns e charges, tendo em vista que são mensagens gráficas repletas de significados, além do dito pelos traços. Este estudo é uma novidade para muitos artistas e professores, tendo no trabalho um norte na perspectiva da inclusão, as definições e atributos de cada aspectos nos mostra a individualidade dos sujeitos artistas.
Assim o ensino de artes ganha mais uma função, a de captar a memória social em fatos e maneiras de interpretá-los, enaltecendo os aspectos dos principais pilares da educação em artes, que são, a criatividade e a produção cultural. Esse aspecto é muito importante para minha pesquisa, realizada em campo através das oficinas de ilustração editorial, Laboratório Livre De Desenho e Laboratório infantil de artes. Todas realizadas nos anos de 2022 e 2023, no Espaço Cultural Renato Russo. Os estudos são similares na metodologia inclusiva e nos aspectos de relação com as visualidades produzidas entorno dos pilares da interpretação e do artefato social.
Essas definições são fundamentais para construção social do sujeito artista visual, pois somente através destas definições e suas experiências pessoais, é que se pode extrair o melhor criativo dos alunos e participantes, as interpretações visuais ganham a conotação de artefato social, e as interpretações sociais nos mostram mais sobre o cartunista ( artista ), do que sobre a própria noticia ou fato ilustrado, exigindo do professor-artista o ajuste do que é ou não adequado para que não haja excessos na racialização, xenofobia, homofobia, etc. Muitas vezes os cartuns podem nos levar a caminhos nada inclusivos, e neste ponto está o cerne desta pesquisa relatado neste ensaio, a produção de uma cultura visual para todos.
A cultura visual em artes é um elemento de inclusão, e não podemos deixar que seja mais um dos aspectos segregadores do sistema social, nas oficinas este ponto fica evidenciado, pois os exercícios são elaborados entorno dos assuntos abordados em notícias ou artigos. Um dos exercício criado por mim ‘simulando uma redação’, é para que o aluno-participante crie uma Charge ou Cartum a partir de uma notícia ou artigo, sempre atuais e carregados de contextos sócio-políticos. Assim podemos acrescentar neste bojo de interdisciplinaridades, o fator de construção da consciência crítica, tão necessária para a formação de um artista que interpreta o mundo.
Os estudos que vivenciei em campo, também dialogam bem com os estudas da pesquisadora, quando os desenhos ganham significado como artefatos sociais, ou seja, ganham a conotação de documentos temporais, marcando uma época. Assim proponho em alguns exercícios, não somente uma interpretação aprimorada, mas também a construção de uma cultura visual com significados que possam ser lidos como verdadeiros artefatos sociais.
“trabalhar a partir de uma abordagem cultural implica considerar o ato de interpretação como algo construído historicamente, social e culturalmente. A associação entre imagem e cultura é o princípio catalizador da cultura visual.”
(VALENÇA, 2009)
A perspectiva inclusiva está presente em todos os processos metodológicos de construção dos cartuns e charges, ou seja, imagens. Nesta perspectiva os alunos-participantes são respeitados, e têm a liberdade de criar suas imagens como eles veem o mundo que os cerca, convidando-os a trazer o próprio mundo para o fazer artístico. E este movimento gera um embate entre a crítica e a reflexão, saudável para a prática de uma educação em artes visuais inclusiva e próxima da pedagogia libertária.
“O único critério da pedagogia é a liberdade, único método, a experiência.”
(Leon Tolstói)
Neste aspecto a cultura visual permeia os estudos da pesquisadora Gabriela de Andrade Rodrigues, a educação anarquista em cultura visual, onde ela se aprofunda na educação anarquista e diversos meios de se ler as imagens. Em sua pesquisa podemos identificar o princípio libertário do ensino de artes visuais em espaços não formais de ensino.
“As escolas anarquistas não eram um prédio, uma instituição, mas um meio, um método, um espaço vivo por onde passava sindicalistas, grupos de estudos, ligas anticlericais, etc..”
(RODRIGUES, 2014)
A cultura visual anarquista era o principal meio de comunicação anarquista, divulgando ideias e temas relevantes para a educação dos jovens que eram vistos, como hoje, herdeiros desta maneira de interpretar e pensar, para transformar a arte dos editoriais em verdadeiros artefatos sociais.
Assim na minha pesquisa nos anos de 2022 e 2023, tive a oportunidade de dialogar com estas metodologias de ensino das artes visuais para enriquecer e melhor fomentar a artes de cartunistas e chargistas que participaram das oficinas oferecidas no Espaço Cultural Renato Russo.
Bibliografia :
Atg. Ensino de Artes e Cultural Visual na perspectiva inclusiva.
Kelly Bianca C. Valença. 2009 - UFG.
Educação Anarquista em Cultura Visual.
Gabriela de Andrede Rodrigues
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