por Luigi Pedone.
"Os professores de artes para exercer suas vias educativas, tem que ser subversivos” .
(Tatiana Fernández)
Todos nós quando lemos um quadrinho, vemos uma charge em jornais e revistas, ou até mesmo através dos “memes” facilmente encontrados na internet, estamos nos abastecendo de informações visuais, vindas das diversas formas. Nesse processo estamos também educando visualmente nossa mente, entre as diversas formas que as artes se comunicam. Nos meios de comunicação impressos isso fica evidenciado na rapidez em que as informações são entendidas, fazendo uma relação direta com as primeiras formas de aprendizado, oriundas nos primeiros aglomerados humanos organizados.
As artes visuais e as leituras das visualidades são parte desse enorme esforço estabelecido para que o ensino e a comunicação possam exercer sua função na sociedade, pois sempre estiveram ligadas historicamente ao domínio político ou de uma parcela privilegiada. Essa conotação faz com que a arte se valorize como instrumento de fortalecimento dentro de um círculo restrito. No entanto, com todas as revoluções na educação, a arte é uma vertente que busca se popularizar. E para isso encontra suporte em metodologias criadas por vários autores em tempos diferentes, e também para propósitos diferentes.
O ensino desta disciplina vem tendo uma função social cada vez maior. Desde o início da era moderna na Itália renascentista, onde de maneira quase industrial, foram produzidas centenas de obras para centenas de catedrais, todas com intuito de levar ao êxtase os Católicos em missas, que muitas vezes tinham a função de decidir o destino de cidades inteiras. O que era decidido depois das orações estava relacionado se haveria guerra com a república vizinha, só por ter sido agraciada pelos olhares atentos dos Estados Papais, o que era o equivalente ao “Wall Street” do século XV. Isso tudo levou as Repúblicas a se erguerem e caírem aos tempos das pinceladas dos artistas, em cidades como Nápoles, Bolonha, Siena, Milão, Florença, Gênova e Veneza. O movimento político da arte renascentista deu início à era das ciências, trazendo grandes avanços na forma de pensar, dando base para se pensar o iluminismo como forma de atingir filosoficamente um modelo de sociedade, que pudesse suportar um modelo de educação artística que, ao mesmo tempo fosse tradicional como um pedagogo romano e eficaz como os mestres renascentistas.
Durante os séculos a igreja e outras formas de dominação usaram o potencial da arte como forma de comunicação de massa, algo que vinha sendo usado desde as primeiras cidades da mesopotâmia, e principalmente usado em escala monumental no antigo Egito, onde artesãos e escribas formaram pela primeira vez na história uma elite intelectual e artística, fazendo da arte parte da cultura atrelada a vida dos cidadãos, pois peças de cerâmica e papirus ilustrados faziam parte da educação, dos rituais e dos negócios em todos os aspectos da sociedade. Neste momento, podemos identificar a criação das primeiras escolas de arte em espaços formais de ensino por conta da estrutura burocrática do Estado teocrático. Também podemos ver o nascedouro de todos os ateliês, que muitas vezes eram longe das grandes cidades produtoras de riquezas. Neste lugar, os mestres artesãos eram vistos como verdadeiros vizires, ou semi-reis, legitimando o poder que a arte tem para sociedades organizadas (LECLANT, 1963).
Temos a leitura de fatos como imagem em nossas mentes. Assim se apresenta o potencial das mensagens gráficas, ou seja cartuns, e outras peças ilustradas, que com a leveza dos traços tem tanto valor de comunicação quanto as palavras, sempre categoric
amente à risca da informação, nunca deixando escapar o reportado. Os desenhos nos levam a muitas leituras do roteiro ou artigo ilustrado, permitindo a experiência estética existente nos editoriais de cartuns e charges, passando mais do que a informação, mas também o sentimento da imagem impressa nos traços.
Um autor que relaciona o ensino de artes visuais com histórias em quadrinhos é Scott McCloud. Ele é conhecido por sua série de livros "Desvendando Quadrinhos", que exploram a história, a linguagem e as técnicas do gênero. Em seus livros, McCloud argumenta que a leitura de quadrinhos pode ser uma ferramenta valiosa para o ensino de habilidades visuais, incluindo observação, percepção de formas e compreensão de narrativas. Além disso, ele também aponta para a importância da arte sequencial na construção de histórias e na criação de significado. McCloud é amplamente reconhecido como um líder na área de teoria dos quadrinhos e sua obra é frequentemente citada e estudada por acadêmicos e profissionais da indústria editorial.
A educação em artes visuais, ao meu ver, se apresenta hoje em duas vertentes que convergem nas suas práticas e no seu conteúdo. No ensino regular e formal das escolas, que quase sempre estão atreladas ao conhecimento teórico, as maneiras de ler uma pintura com seus artistas mais relevantes, sempre acompanhado de uma vasta carga de história da arte, com nomes e tipos diferentes de interpretações, que ao meu ver mais confundem do que esclarecem, fazendo da disciplina da história fundamental aporte para o ensino de artes. Já nos espaços não formais de ensino, às artes visuais sempre tiveram uma difusão maior na construção da pictografia, ou seja do desenho e da pintura em prática de ateliê, para diversos fins artísticos, pessoais ou mesmo comerciais.
O ensino de artes visuais em espaços culturais pode ser fundamental para a formação do profissional de ilustração editorial. A exposição a diferentes estilos, técnicas e tendências em artes visuais pode ajudar a ampliar a visão e o repertório de um artista, além de fomentar a sua criatividade e inovação.
Neste contexto temos que desconsiderar o ensino de desenhos e peças artísticas dentro dos modos propostos pela disciplina nas escolas formais. O ensino das artes visuais nas escolas não apresenta nenhuma diferenciação entre as modalidades curriculares de seus professores. Muitas vezes vemos professores de artes cênicas ou de música escalados para ensinar artes visuais, mostrando que a produção do desenho é totalmente negligenciada. Em contraste, os espaços não formais de ensino, como os espaços culturais, contribuem com o ensino das artes visuais enfatizando o desenho atrelado ao processo de elaboração de peças em comunicação artísticas e suas atribuições editoriais, principalmente quando essa função é básica para o desenvolvimento profissional em outras disciplinas como Designer Gráfico, Desenho industrial e Arquitetura, tendo através da ilustração mais uma porta de entrada no mundo profissional através do aprendizado das várias vertentes da ilustração.
Contudo o processo de educação visual profissional sempre foi alterado através dos tempos, tendo sido um instrumento de fortalecimento dentro das inovações industriais, desde que a indústria se propôs à produção de peças artísticas ainda no século XVIII, através da forte ação comercial na Inglaterra Vitoriana.
Walter Smith foi o pioneiro nesse contexto que empregou na América do Norte o sistema onde os industriais compravam um Kit, para montar sua fábrica, neste Kit era disponibilizado um professor de artes visuais para ensinar o modelo adequado de ilustração para as louças produzidas, rendendo uma visualidade tipicamente inglesa para os outros países de cultura visual muito diferentes. Smith desenvolveu um método de ensino baseado em princípios científicos e em estudos rigorosos sobre o processo criativo, o que levou a uma ampliação da compreensão sobre a arte e sua produção.
Além disso, ele incentivou a interação entre alunos e professores, criando um ambiente de troca de conhecimento e colaboração, que foi fundamental para o desenvolvimento da arte na época. E isso se aplica ao momento atual onde as diferentes modalidades de artes visuais são entendidas como funções cada vez mais valorizadas no mercado em grande transformação.
A formação de ilustradores pode ser realizada em diferentes espaços culturais, incluindo escolas de arte, universidades e escolas técnicas. Além da formação técnica em desenho, pintura e outras técnicas de ilustração, é importante que os ilustradores tenham uma compreensão sólida da história da arte e da cultura visual, bem como habilidades em pesquisa e comunicação.
Com o advento da tecnologia digital, o mercado de artes tem expandido as possibilidades de empregabilidade para os ilustradores. Eles agora podem trabalhar em projetos para mídias digitais, como animações, jogos, aplicativos, livros eletrônicos, entre outros. Além disso, a crescente demanda de publicidade por conteúdo visual na era digital , também criou novas oportunidades para os ilustradores em áreas como, branding e marketing, dando munição aos ilustradores para que possam envolver suas peças de arte em criações de comunicação, acompanhando as ininterruptas mudanças do Século XXI.
No entanto, é importante destacar que o mercado de trabalho para os ilustradores pode ser altamente competitivo, e é necessário desenvolver habilidades em negociação e gerenciamento de projetos para maximizar as chances de sucesso. Além disso, manter-se atualizado com as tendências e tecnologias em constante evolução também é fundamental para a sobrevivência e o sucesso na carreira de um narrador ilustrador.
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