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De Brasília Ilustrada ao Atlas cartum gráfico de História.


 

 



página do catálogo Brasília Ilustrada (2020)
página do catálogo Brasília Ilustrada (2020)

            Como artista e historiador busco em saberes multidisciplinares um mote para desenvolver meus trabalhos e publicações, sempre apoiado nas ações que financiassem os trabalhos através de recursos públicos, mesmo que fossem apoios pequenos, como entrevistas e divulgações. Mas entre as que foram mais relevantes estavam vinculados ao Espaço Cultural Renato Russo. Onde tive a oportunidade de ter espaço para desenvolver as revistas publicadas no período de 2007-2012, no mesmo período que foi realizada a primeira oficina de Ilustração Editorial.

            Para entender este processo, busco entender a Charge e os Cartuns como documentos culturais, me espelho nos trabalhos de Will Eisner e sua maneira peculiar de ilustrar a sua cidade, parte crucial para a revisão bibliográfica da pesquisa é fundamentada nos estudos propostos no artigo, A Charge como documento: uma proposta a partir da análise documentária. Realizado pelos pesquisadores Thulio P. Dias Gomes e Rosali F. Souza (2020), que junto de outros autores ajudam a embasar este trabalho, que tem como objetivo mostrar como os catálogos em cartuns de Brasília ilustrada (PEDONE Luigi, 2019) e o livro ilustrado Atlas Cartum gráfico de História (PEDONE Luigi. 2021) se fundamentam como documentos educacionais. Juntamente com a análise do papel que o Espaço Cultural Renato Russo desempenha ao proporcionar um diálogo entre o artista, a obra e seus frequentadores, dando uma dimensão educativa ao fazer da arte.

            Ao desenhar as primeiras lâminas de Brasília Ilustrada em 2005, a cidade era uma obra para que fosse ressignificada através dos traços do humor, os cartuns e charges tem o poder de incorporar uma vasta forma organizar o conhecimento através dos temas abordados nas obras (GOMES e SOUZA, 2020).

Ao refletir sobre o carácter Informativo da Charge, consideramos possível identificar variáveis próprias de análise da Charge enquanto documento quanto ao conteúdo temático que representam (GOMES e SOUZA, 2020)

Os desenhos são mensagens gráficas embutidas em representações que mostram a cidade com clareza em sua estética, porém em caricaturas urbanas, que estavam presentes nos primórdios da educação visual em editoriais de massa que permearam o início do século XIX e todo século XX (MAGNO, p15. 2012)

 

Dos precursores como Manoel Araújo Porto Alegre e Rafael Mendes de Carvalho, ao traço moderno de J Carlos ou Millôr Fernandes, A caricatura passou por mudanças estéticas significativas. (MAGNO, p. 15, 2012)

E as formas de usar esta ferramenta visual também acompanhou as pesquisas de arte na educação visual de massa brasileira, ainda na década de 1970 (SODRÉ, p.21, 1973) O uso dos desenhos apresentava as cidades como mero pano de fundo, mas durante a contracultura as representações das cidades passaram pela revolução estética vinda com os ares ilustrados nas revistas europeias e estadunidenses, onde o objeto da sátira era sua própria cidade. Autores como Robert Crumb e Will Eisner, usaram a cidade como palco de seus trabalhos nas narrativas visuais, pois a tarefa do escritor e artista é mostrar o fluxo contínuo de experiências e mostrá-lo como tal (EISNER. p. 40, 2010).

Logo quando a primeira edição Cartum Show – Brasília Ilustrada foi contemplada pelo FAC (fundo de apoio a cultura), ficou cada vez mais estreito o vínculo com o Espaço Cultural Renato Russo, principalmente quando o gestor deste projeto foi Gersion Castro, artista e servidor, e um dos nomes que ajudou a consolidar o espaço da Gibiteca mais relevante para a narrativa visual no DF, com isso o Espaço Cultural Renato Russo se tornou um suporte para que desde sempre pudesse desenvolver estes trabalhos, como relata o próprio artista-servidor:

Satisfação de ver nascer a revista Cartum Show, e me emociona saber que a cartum show, me fez reconectar e voltar a me identificar com a gibiteca, relembrando dos encontros na Gibiteca.
(...) Eu estava lá de frente de um projeto de uma pessoa que começou na 508, participou das exposições na gibiteca como desenhista. Quando lembro que o primeiro espaço que abriu oportunidades foi a Gibiteca, e me vi de frente de uma revista como Brasília ilustrada, meu olhar não era de um gestor, servidor ou técnico, e sim de um artista que se identificou com o projeto.
(Gersion Castro em entrevista realizada em 07/04/2024)

 

Este espaço é crucial para que se desenvolva um narrador visual, com todo o acervo da gibiteca e biblioteca de arte, que leva aos frequentadores uma experiência de educação multidisciplinar (ASCOM/SECEC. 2022). Assim comecei a pensar em documentos visuais que trouxessem em suas cargas de cultura visual modos de assimilar e aprender com as mensagens gráficas, dentro de um espectro de novas formas de narrativas visuais.

Foi entorno deste pensamento que comecei a criar mapas que mostrassem trechos da cidade ou modos de acessar eles. E vi que poderia explorar essa ideia, de maneira que as informações surgissem enquanto as crianças estivessem lendo os desenhos, criados a partir de conteúdos de história ou geografia. Este processo me mostrou que através da interpretação o dos cartuns o leitor aprende e desenvolve sua cultura visual (MARTINS COELHO, p. 207, 2012).


           

No ano de 2015 fiz a ilustração de um mapa do mundo em aquarela e nanquim com o tamanho de 86x76 cm em um papel 100% algodão para que pudesse chegar ao melhor visualmente, neste mapa tentei pôr o máximo de informação que foi possível de maneira leve e lúdica, mas sem perder a estética cartográfica, fazendo do cartum um infográfico educativo, e essa ideia permeou muitos dos meus trabalhos até 2018, me levando a realizar no Museu Nacional da República a mostra de cartuns ‘Uma História Ilustrada’ (PEDONE. Luigi: Uma História Ilustrada. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024), e mais uma vez foi em um espaço público que se realizou essa minha primeira experiencia na narrativa visual interdisciplinar.

Os espaços de cultura e saber são fundamentais para que a realização destes trabalhos em cartuns alcance o seu principal público, que são os estudantes sedentos por cultura e atividades vivas. Nas narrativas visuais criadas das cidades e mapas fica evidente a aderência da arte encontrada nos cartuns com os conteúdos estudados na História e Geografia, transformando a informação em formação de jovens leitores (ARAÚJO, 2018).

Em ambos os trabalhos, tanto a série Brasília Ilustrada, quanto os mapas interdisciplinares sempre tiveram por parte do Espaço Cultural Renato Russo um acolhimento nas suas produções, nunca faltou segurança e espaço para que os trabalhos se realizem, pois, sua estrutura física nos mostra a diretriz de acolher aos artistas, além de ser preparada para trabalhar as diversas linguagens das artes visuais, em seus espaços e salas (AFONSO, p 31. 2006).

Fazer a análise destes trabalhos em cartuns mostra que são documentos fundamentais para a educação interdisciplinar e revela um crescente reconhecimento de sua importância no contexto educacional. (SOUZA Santos, 2012) discute como a inclusão de histórias em quadrinhos nos livros didáticos de Língua Portuguesa contribui para uma abordagem mais lúdica e contextualizada do ensino. Embora as ilustrações sejam frequentemente utilizadas para exemplificar regras linguísticas e introduzir temas, elas também abordam questões sérias, refletindo a complexidade do discurso que se forma a partir do contexto histórico e da visão de mundo dos leitores.

 

Torna-se, portanto, necessária a transposição do nível textual para um nível mais abrangente, o narrativo. Na dimensão da narrativa, observa-se a temporalidade, ainda que estática na charge. (GOMES e SOUZA, 2020)
 

Essa observação destaca a necessidade de uma análise mais profunda das ilustrações, que vai além da superficialidade, visando uma compreensão crítica por parte dos leitores.

 


Livro - Atlas cartum gráfico de História 2021.
Livro - Atlas cartum gráfico de História 2021.

           

Podemos argumentar que as narrativas visuais, lidas como charges e cartuns nestes trabalhos, com suas características interdisciplinares, estimulam a inferência e a curiosidade nos alunos, promovendo o desenvolvimento de um pensamento crítico. As charges não apenas desafiam os alunos a decodificar textos, mas também a construir significados a partir de uma leitura ativa e reflexiva. A interação entre os processos cognitivos e a interpretação das charges é fundamental para a formação de opiniões informadas, evidenciando o potencial desse gênero para fomentar um ambiente de aprendizado dinâmico e engajado (BIDARRA e SILVA Reis, 2013).

      Assim, a literatura analisada neste texto nos evidencia que os trabalhos ‘Brasília Ilustrada’ e ‘Atlas cartum-gráfico de História’ são fortes instrumentos de educação. Moldados nas diretrizes educativas multidisciplinares dos espaços de cultura como o Espaço Cultural Renato Russo, e quando utilizados de forma crítica e criativa, podem servir como documentos legítimos que enriquecem o processo educativo, promovendo uma compreensão mais ampla e integrada dos conteúdos abordados.

 

           

           

        



   fonte : ·    

  •      MAGNO, Luciano. História da Caricatura Brasileira V.1. Editora edições de artes LTDA. São Paulo 2012

  • ·         SODRÉ, Muniz. A Comunicação do grotesco, Ed. Vozes. Petrópolis RJ. 1973

  • ·         Eisner, Will. Quadrinhos e Arte sequencial. 4ª edição, ed. Martins Fontes. São Paulo. 2010

 
 
 

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