Desde sua primeira ocupação nos anos 70 o espaço cultural da 508 tem sido um eficiente espaço de educação através da arte bem aos moldes da metodologia libertária proposta por Dewey e Freire, tenho me abastecido das propostas de cada um desses dois para determinar que essa é sua real necessidade em uma sociedade mais dividida e opressora em diversos níveis.
Nos primeiros anos foi ofertada uma educação em arte voltada as necessidades do momento, lembrando que eram tempos de ditadura militar, e ações de agentes com muita força política mantiveram o espaço ativo, repleto de aulas, em meio aos desmandos na educação tiveram professores que lutaram para exercer suas atividades, os galpões da w3 sul, eram um destes locais, onde hordas de jovens sedentos por cultura iam, para saírem da rotina massiva que Brasília se mostrava na época.
A arte por si, já é uma ação libertária, ligada aos ideais que moldaram a educação nos anos finais dos anos 70, não estavam em consonância com as prioridades educacionais do regime, era necessário que se rompesse com os antigos paradigmas e estereótipos que a educação em artes carregava. E formas foram implantadas para que existisse um espaço de artes e saber, onde diversos cursos eram ministrados pelos professores da fundação educacional, era um laboratório onde se experimentava pedagogias culturais repletas de sentidos interdisciplinares quando nem se pensavam em uma educação liquida dessa forma.
Brasília dos anos 1960 até 1970 exalava uma liberdade que comungava com as vivências dos Hippies, a respeito das relações que os jovens estabeleciam com a cidade, com seus campos abertos e de horizonte amplo.
Uma pesquisa realizada entre 18/10/1966 e 15/12/1966 foi publicada por José Pastore[1], onde ele verifica a satisfação dos imigrantes na capital, e o resultado não é nada surpreendente, as mulheres casadas trabalhavam fora em níveis mais altos que a proporção nacional, e isso induziu uma menor atenção com as crianças, que ficavam sob cuidados das instituições especializadas ou com pessoas do convívio próximo, mesmo sendo estranhas, o que fatidicamente gerou uma geração de jovens com um grande senso de liberdade. Ao mesmo tempo em que as crianças participavam de atividades culturais extracurriculares que contribuíram para que os jovens pudessem formar grupos onde se auto socializaram, escapando das mazelas de viver em uma ditadura, com a cultura vigiada.
Segundo a jornalista e pesquisadora Patrícia Ferreira Alves, o clima político cultural estimulava a independência dos jovens pertencentes a classe média, que favoreceu o florescer de uma cultura em comum, onde um tribalismo movia as primeiras atividades culturais nas diversas linguagens. Não podemos esquecer de citar a importância das movimentações culturais nas cidades satélites, que comportavam uma diversificada vida cultural e regional, como o Seu Teodoro e o Bumba meu boi de Sobradinho, os Bailes do clube primavera em Taguatinga e outros centros das cidades satélites que motivaram de alguma forma a ocupação do futuro “Centro de Atividades” na 508 sul.
[1] José Pastore, Doutor Honoris Causa em Ciência e Ph. D. em sociologia pela University of Wisconsin (EUA). É professor titular da Faculdade de Economia e Administração e da Fundação Instituto de Administração, ambas da Universidade de São Paulo. É pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e consultor em relações do trabalho e recursos humanos.
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