Os artistas que vieram para Brasília não eram somente os grandes nomes convidados pelos pensadores originais da capital, na verdade na sua maioria eram artistas regionais que faziam muitas coisas de maneira artesanal. Eram produções de pequenas peças em barro ou louça, tapetes em tear, mas também havia artistas plásticos e dramaturgos, e esses eram os que mais precisavam dos espaços culturais.
“A transferência da equipe de arquitetura da Nova cap, em 1958, a realização do congresso nacional de críticos de artes 1959, e a criação do Instituto Central de Arte da Universidade de Brasília em 1962, podem ser consideradas marcos da implantação das atividades das artes na cidade.”
(MADEIRA, p21)
Já em 1961 foi dado um início para o cenário das artes em Brasília com o primeiro salão de artes da capital realizado pela fundação cultural, vencido pelo pintor [1]Paulo Iolovitch. Este feito trouxe um ar de novidade neste cenário artístico criado para renovar e oxigenar as vidas culturais em um cenário novo.
Os artistas como Athos Bulcão, Rubem Valentim, Hugo Mund e Luiz Áquila juntamente com outros nomes inauguraram o cenário das artes visuais em Brasília, e de longe este cenário era composto somente de grandes nomes, eram compostos de artistas de muito menos expressão, mas puderam ser bons professores e agentes culturais, um papel fundamental de grande importância para se desenvolver um cenário forte de artes visuais.
Os alunos das escolas tinham a oportunidade de terem aulas com os artistas abrigados pelo Centro de Criatividade da 508. Neste movimento os pioneiros na cena cultural, também eram professores que tinham nas mãos o futuro da cultura em Brasília, mesmo sabendo que outros espaços também importantes estavam juntamente garantindo uma cena no DF.
O papel das escolinhas de arte espalhadas pelas cidades satélites foram um ponto relevante para manter o velho ideal de Ferreira Gullar que sempre pensou a cultura atrelada à educação, valorizando a cultura dos pioneiros como elemento fundamental para pensar uma identidade cultural brasiliense, onde todos os imigrantes pudessem se sentir acolhidos em suas expressões culturais.
Esta realidade contrastava com a constrangedora maneira em que os jovens viam a cidade, em parte monótona com uma vida cultural e até urbana limitada pela segregação social, a cidade era para os ricos que financiaram sua construção e altos funcionários públicos. Os pobres não tinham muitos espaços para exercer o fazer artístico.
É neste ponto que o espaço da 508 é apresentado como um modelo de arte-educação, mesmo que atrelado ao ensino técnico. Foi neste tempo que os jovens viam, nas atividades do Galpão na W3 uma maneira segura de expressar sua arte, fazer disso uma profissão viável, em um tempo que isso não era fácil.
1975 foi o ano em que o embaixador Wladimir Murtinho propôs ações educativas aos galpões, as atividades eram realizadas pela secretaria de educação, quando a fundação cultural era uma subordinada, mas o embaixador tinha uma grande aderência no meio político.
O Embaixador Murtinho era conhecido como um homem da Cultura, mais sensível as questões advindas da educação artística. Era uma visão que não ia de encontro com Ruy Pereira diretor da secretaria de educação totalmente alinhado com as políticas do regime ditatorial da época. Para Murtinho isto não era um problema, ele circulava por todos os aspectos do governo, e sempre foi respeitado e sua voz era sempre ouvida. O fato de ser embaixador dava maior autonomia para fundação cultural, e os Galpões estavam na sua mira. Como podemos conferir nas palavras de Tetê Catalão.
“Nesta época, estamos em 75, havia uma falta de locais, porque só havia a parte da frente não o que é hoje, porque pertencia a secretaria da fazenda (levamos anos para conseguir). Havia o teatro da escola – Parque e o 'Balão de ensaio.
Não havia estruturas culturais, então aproveitava-se o que tinha. Transformaram o Galpão em um lugar de teatro e exposições. No meio o Galpão. E depois o Galpãozinho. Nesta época a sala Martins Penna ai fechar para reforma, pois o teatro nacional ainda não estava acabado. A 508 veio substituir o que já existia, mas em condições muito precárias."
(Alves, p.26)
Brasília nos anos 1970 foi um laboratório para muitos destes alunos que frequentavam o centro de criatividades, e foi sem dúvida um ponto de encontro para uma geração que se mostrou muito mais promissora do que eles mesmos acreditavam que pudessem. Para o ensino de artes visuais, Brasília em meio as dificuldades políticas de se exercer uma política cultural, se tornou um Oásis de arte e aprendizado em espaços não formais de ensino, fato que trouxe um folego importante para a cena das artes sufocada pelos anos de chumbo.
[1] Paulo Iolovitch, artista plástico nascido em 1936, vencedor do primeiro prêmio de Artes Plásticas da nova capital em 1961.
Intinerância dos Artistas: A construção do campo das artes visuais em Brasília.
Angélica Madeira - ED UnB.
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